Nos tempos em que o Intel Atom sequer existia…

Embora os tablets tenham chamado bastante a atenção do público geral, os netbooks continuam em cena, impressionando tanto as vendas com a sua participação de mercado, quanto os consumidores com a sua versatilidade e baixo custo. E as CPUs Intel Atom reinam neste mercado, proporcionando uma arquitetura-base que consegue combinar bem – à sua maneira – o razoável desempenho com a autonomia necessária. Mas, como foram os tempos em que o Intel Atom não existiam? O que seria dos netbooks e outros ultra-portáteis do gênero? Eles teriam futuro?

Asus Eee PC 701, baseado no Celeron-M.

Asus Eee PC 701, baseado no Celeron-M.

A grande ironia é que os primeiros modelos eram dotados de CPUs low-end de baixo consumo para os seus padrões, como o Celeron-M. O modelo 353, apenas 900 MHz, 512 KB de cache L2 e um TDP na ordem de 5 Watts, não está muito longe do Atom, embora o custo unitário de produção deste último esteja bem mais em conta. Porém, as telas claustrofóbicas de 7″ e a resolução minimalista de 800×480, bem como o diminuto e desconfortável teclado, poderiam perfeitamente condenar o empreendimento, o que curiosamente não aconteceu: a aceitação destes dispositivos por parte dos consumidores foi tão boa, que novas safras de netbooks foram desenvolvidas. Logo em seguida, vieram as CPUs Intel Atom, que tiraram um bom proveito das qualidades dos novos aparelhos (LCDs e teclados melhores, além de outros recursos), ganhando destaque e renome nestes novos tempos.

Netbook do programa OLPC.

Netbook do programa OLPC.

Antes disso, haviam poucos netbooks dotados de outras CPUs que não fossem o Intel Atom. No entanto, existiam protótipos interessantes, onde alguns chegaram a ser fabricados comercialmente. Inicialmente, tivemos projetos de netbooks ultrabaratos, com o objetivo de serem comercializados por menos de US$ 100,00. Batizados de OLPC (One Laptop Per Child), uma equipe do MIT comandada por Nicolas Negroponte, desenvolveu um ultraportátil especial, voltados exclusivamente para atender o ensino educacional infanto-juvenil de países em desenvolvimento. Nas especificações originais, a CPU adotada era uma AMD Geode LX-800 de apenas 500 MHz, além de míseros 256 MB de RAM e 1 GB de armazenamento. Embora a ideia não tenha feito muito sucesso, a iniciativa abriu o caminho para os empreendimentos comerciais, como os primeiros netbooks que conhecemos.

Via Nanobook, um protótipo do que poderia ser os novos netbooks.

Via Nanobook, um protótipo do que poderia ser os novos netbooks.

Paralelamente, outros fabricantes corriam atrás desta mina de ouro. A Via, uma companhia considerada inexpressiva no ramo dos semicondutores, há tempos desenvolve CPUs x86 de baixo consumo, com destaque para o C7-M. Embora tivesse um desempenho baixo até mesmo para os padrões da época, o C7-M mantinha um consumo na ordem de 5 Watts, rodando à 1.6 GHz. Mas infelizmente, tais valores não impressionavam: o Intel Atom, além de consumir apenas 4 Watts (em sua versão desktop), o seu desempenho era o de até 20% superior. Já o Celeron-M deixava o C7-M praticamente no chinelo, mantendo praticamente o mesmo consumo em full-load; em contrapartida, o consumo geral deste último é bem maior, já que não há nenhum mecanismo de redução de frequência – e consequentemente de consumo – em situações onde a CPU estava em repouso (idle).

Via OpenBook: a atualização do projeto permitiu o uso de um LCD maior e o suporte aos novos processadores Via Nano.

Via OpenBook: a atualização do projeto permitiu o uso de um LCD maior e o suporte aos novos processadores Via Nano.

“Apesar dos apesares”, estas CPUs low-end conseguiam oferecer um desempenho modesto e uma autonomia razoável para os propósitos dos ultra-portáteis na época. Pode parecer pouco uma capacidade de carga variando em 2 ou 3 horas, mas lembrem-se de que muitos dos netbooks atuais, mal conseguem superar a barreira das 3 horas de funcionamento ininterrupto, mesmo com as novas safras de CPUs Intel Atom. Além do mais, muitas destas CPUs eram habilitadas a processarem instruções “out-of-order”, o que lhes conferiam uma certa capacidade de processamento superior, em muitas situações. Mas os seus IGPs também deixavam um pouco à desejar…

Fujitsu Lifebook P1510D.

Fujitsu Lifebook P1510D.

Entretanto, nem todos os netbooks eram produtos considerados baratos ou atrativos. Por exemplo, o Fujitsu P1510D – dotado de uma CPU Pentium-M de 1.2 GHz e consumo de apenas 5 Watts – custava algo em torno de US$ 2.000,00, considerado caro até mesmo para os padrões de fabricantes de luxo, como a Apple. No entanto, o netbook da Fujitsu tinha a vantagem de possuir uma base giratória para o LCD, transformando-o em tablet de acordo com as necessidades do usuário (podendo ser considerado o “precursor” de certos modelos existentes). Embora fosse dotado de um design bonito, a bateria de apenas 2.600 mAh mal segurava o dispositivo por mais de 2 horas de funcionamento fora da tomada. Que pena, pois havia adorado o netbook! 😉

Um modelo clássico de smartbooks ultra-barato de 7".

Um modelo clássico de smartbooks ultra-barato de 7″.

E se o Atom não tivesse sido desenvolvido, o que mais poderia acontecer? Sei que para alguns, os netbooks seriam lançados, embora fossem utilizadas outras CPUs de baixíssimo consumo como o Celeron-M, o Via C7-M e o Geode LX; mas ainda assim, não alcançariam a popularidade dos netbooks equipados com o Atom. Mas por incrível que possa parecer, o conceito tradicional dos netbooks também estava começando a ganhar estas formas, com o lançamento de “pseudo”-netbooks, dispositivos extremamente compactos e baixíssimo custo, fabricados na China. Estes, além de serem baseados em SoCs ARM já obsoletos (com CPUs que rodavam de 266 a 400 MHz em média), os recursos eram ínfimos: pouquíssima memória RAM (de 64 a 128 MB) e ínfima capacidade de armazenamento (até 2 GB). Para variar, eram utilizados sistemas operacionais rudimentares, feitos para dispositivos portáteis como o Windows CE.

O smartbook TouchBook, da Always Innovation.

O smartbook TouchBook, da Always Innovation.

Entretanto, com o surgimento dos SoCs ARM baseados na arquitetura do ARM Cortex-A8 (e posteriormente o Cortex-A9), novos empreendimentos foram surpreendendo a mídia especializada. Os smartbooks, dispositivos equivalentes aos clássicos netbooks (mas dotados de soluções baseadas nos SoCs ARM), foram sendo lançados bem aos poucos, na expectativa de conquistar os consumidores e ganhar um espaço neste mercado tão disputado. Acima, um belo exemplar desta categoria: o smartbook TouchBook, da Always Innovation. Na prática, se tratava de um tablet com um teclado destacável, uma solução se que parece muito com o novo Asus EeePad Transformer.

ARM Cortez-A15 (Áquila): a nova aposta para os PCs desktops?

ARM Cortez-A15 (Áquila): a nova aposta para os PCs desktops?

Por fim, com as expectativas em torno das CPUs quad-core baseadas no ARM Cortex-A9 e Cortex-A15, novos capítulos serão escritos na história dos computadores sem CPUs Intel Atom. Para variar, o lançamento do Windows 8 com suporte a arquitetura ARM, poderá inaugurar uma nova era da computação, onde os futuros PCs desktops baseados nesta arquitetura não só concorrerão com os PCs desktops x86 clássicos que conhecemos, como também oferecerá às demais categorias de dispositivos (MIDs, nettops, netbooks/smartbooks e tablets), uma oferta incrível de produtos e serviços relacionados. Todos, íntimanente conectados à Internet, funcionando 24 horas por dia sem desperdício de energia e ainda, servindo de plataforma para jogos, sejam estes casuais ou não! Duvidam?

nVidia Tegra 3 e a promessa de mais poder gráfico para os portáteis...

nVidia Tegra 3 e a promessa de mais poder gráfico para os portáteis…

Até lá, teremos mais novidades… &;-D

Por Ednei Pacheco <ednei [at] hardware.com.br>

Fonte: http://www.hardware.com.br

Deixe um comentário